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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Como facilitar a vida do seu cãozinho cego!

Nós temos um grande amigo chamado Monet, um cãozinho da raça pug, cego de nascença. Monet é a coisa mais linda e vesguinha de coleira vermelha.



Quero contar para você um pouco da nossa experiência com esse cãozinho portador de necessidades especiais que mudou a nossa vida completamente.

Eu já contei um pouco aqui sobre o Monet. Ele tem melhorado bastante em relação as malcriações. Ele agora começou a se comportar como o Miró se comportava com uns quatro meses. Embora ele seja mais descolado, mesmo sendo cego, ele demora bem mais para aprender.


Vamos as dicas de como facilitar o dia-a-dia do seu cãozinho cego. Lembrando que há uma diferença entre os cães que nunca enxergaram e os que deixaram de enxergar... 

Bebendo água - O bebedouro foi a primeira grande conquista para a nossa organização com o Monet. De todas as variáveis essa é a única que não tem exceção "os cães bebem água a toda hora". Logo, esse foi o item que demos mais atenção no início da vida do Monet. 

O comedouro e o bebedouro (pote para colocar a comida e a água) de um cãozinho cego precisam ser aqueles que tem o fundo pesado. No inicio e quando estiver eufórico seu cãozinho cego terá dificuldade de frear. Afinal, ele não sabe com precisão a distância entre ele e os objetos, então o pote de água precisa estar pronto para qualquer esbarrada mais forte. Com o tempo o seu cão vai parar certinho para beber água, mas antes disso, vários pequenos acidentes farão com que ele derrube o líquido ou só consiga parar quando estiver dentro do pote. O lugar que você vai escolher para deixar a água, que tem que ser sempre o mesmo. Isso pode facilitar muito a aprendizagem do seu cão cego. Cada lugar que vamos, temos o local da água e é através dele que o Monet organiza o espaço. Mudou o lugar da água, acabou com a vida do puguinho, é como se ele tivesse que memorizar tudo novamente. Sem falar que me parte o coração se ele ficar confuso e desesperado atrás de suas coisas, sem encontrá-las.



Nós tivemos várias adaptações até encontrarmos a solução ideal para ele, mas criar algumas associações também facilita bastante, como exemplo: a água estará sempre perto de uma porta ou ainda a água está do lado do lugar de dormir. 

Quando a gente leva os pugs na casa dos meus pais nem preciso mais levar o pote que fica em casa, como ele já associou o lugar onde fica a água, ele consegue beber sem derrubar. Mesmo usando um recipiente de plástico.
A primeira coisa ao chegar em um lugar é colocar o potinho com água sempre no mesmo local e levá-lo até lá. Agitamos a água com a mão para que ele saiba que ela está lá, geralmente ele encosta a linguinha e já sai saltitante, todo dono de si. A gente prefere agitar a água do que forçar a cabeça dele em direção ao pote. Tenho certeza que ele também.           Se for um local desconhecido fazemos umas três vezes o caminho com ele dá porta principal até o pote de água. Se tiver muito obstáculo, as primeiras idas e vindas tem que ser com a guia, do contrário ele vai livre mesmo: lógico que em espaços internos.

O xixi e o cocô - O Monet não tem muita dificuldade em encontrar o lugar certo pra as suas necessidades, e a gente sempre escolhe o local na direção oposta do pote de água. Então se é um corredor ele já sabe que de um lado é a água e do outro é o xixi.
Tem alguns acidentes de percurso, algumas vezes a gente fica se perguntando como ele conseguiu determinadas façanhas. Ele já fez xixi dentro de potinhos (sem errar uma gota),  já fez cocô no degrauzinho da sacada e na parede. É bem engraçado! Só que são raros os erros, ele é capaz de encontrar o jornalzinho, que fica embaixo de uma grade de plástico.

Os pugs daqui de casa detestam que a grade fique suja, quanto mais o local estiver limpo, mas fácil de não haver erros. Quando saímos de casa, levamos apenas o jornal e com ele ainda limpo damos umas pisadinhas nas folhas para que faça o barulho característico e o Monet saiba que aquele lugar deve ser usado para as necessidades, apesar de achar que ele identifica o cheiro do jornal e nem é tão necessário avisá-lo. No início da aprendizagem usamos pipi-dog que é aquela bisnaguinha que promete incentivar o cão a utilizar sempre o mesmo lugar para as necessidades. Acho que ajudou muito. Usamos zilhões de bisnaguinhas.  Quando o Monet fez uns cinco meses ele começou a ter nojo de pisar no xixi e no cocô. Sééério, não estou viajando, não. Se acontecia dele atolar a patinha, ele ficava "p" da vida... não queria mais encostar a patinha no chão, ficava cheirando o chão e sua patinha e fazendo umas caretinhas engraçadas. Enquanto eu lavava e secava as patas do danadinho, eu conversava com ele, explicando que ele precisava fazer sempre no mesmo lugar para não ter que passar por aquilo. Pode ser coisa da minha cabeça, mas depois disso as melhoras foram progressivas, até que hoje em dia, os acertos são infinitamente maiores que os erros.
Porta aberta x porta fechada - parece óbvio, mas vale lembrar. Seu cãozinho cego não vai saber quando as passagens estão liberadas ou não. Para isso, é bom manter uma rotina. As portas que costumam ficar abertas, sempre abertas. As portas que dão acesso a locais que o cão não deverá entrar, sempre fechadas. Nunca deixe dúvidas. Quanto mais clara for essa definição, melhor para a conservação do espaço e evita também que o seu amiguinho dê com a cara na porta, ainda mais os "sem fucinhos", que já dão logo uma boa cabeçada. Se um lugar de passagem liberada vai ser fechado, eu abro e fecho a porta algumas vezes, assim ele associa que a porta não está mais aberta. Vez ou outra eu "arranho" o objeto que está impedindo a circulação para ele se localizar a tempo e prever a distância que deve parar. Por exemplo, a porta do banheiro está fechada e ele vem correndo atrás de mim "Monet, devagar a porta está fechada". Faço algum barulho na porta e ele entende que tem alguma barreira.

Objetos no meio do caminho - A gente evita grandes mudanças no ambiente. Tudo que estiver sempre no mesmo lugar, facilita bastante para o Monet. Quando estamos só nós quatro em casa, beleza! Ao receber visitas é um pouco mais delicado. As pessoas sempre esquecem que o Monet não vai conseguir parar antes do obstáculo e que ele já mapeou a casa, do jeito que ela é, qualquer alteração demora um pouco para ser identificada.  Funciona assim: ele sabe onde ficam as cadeiras, puffs, poltronas e sofás, só que ao sentar a gente acaba mudando um pouco a posição desses objetos, geralmente afastando. Quando a pessoa está sentada, ele até identifica o cheiro e consegue desviar. Agora ao levantar, o objeto fica ali sozinho e o Monet dá uma grande cabeçada. Como as pessoas que vem aqui em casa são sempre intimas e queridas, entendem a nossa situação e peço gentilmente que: não tirem os sapatos (se tirar tem que ser guardado, fora do chão), não deixem objetos desconhecidos no meio do caminho (bolsa, capacete, brinquedos, carrinhos) eu mesma guardo ou coloco num canto que o Monet pouco circule e que quando levantem, retornem o assento para o lugar que eles estavam.

Brinquedos - Por muito tempo eu pensei que brinquedos grandes e barulhentos eram os preferidos dos cães cegos. Errei, errei feio. O Monet gosta de brinquedo pequeno e silencioso. Nunca se interessou por nada maior que a palma da nossa mão e muito menos por coisas com guizo. Bichinhos de pelúcia precisam ser mais ou menos do tamanho das surpresas do Mc´ Donalds, manja? Se tiver alguma parte dura, facilita para ele. Não sei o motivo. As bolinhas ele só gosta das sólidas de borracha macia, eu aposto que fica com o cheirinho dele, e ele encontra mais fácil. As bolinhas que pulam, tremem, fazem barulho, são de plástico... todas ignoradas! Monet gosta de mordedor, mas não pode ser muito mole, nem muito grande.  Objetos mais pesados facilitam a vida dele, já que não ficam "fugindo" enquanto ele brinca. Apesar que quando o Monet quer atenção, ele fica escondendo os brinquedos em lugares que ele não consegue pegar e se fazendo de coitadinho para passarmos o dia todo pegando para ele. Pura manipulação!


Excesso de barulho - Antes de buscarmos os pugs compramos duas coleirinhas com uma plaquinha dupla de identificação linda. Além de ter nossos dados, o objetivo era que ele pudesse encontrar o irmão, já que quando andavam fazia um barulho, não muito alto, mas fácil de identificar. O Monet detestou! Ficava completamente perturbado.  Aquilo incomodava demais a ele. Só conseguimos usar nas costas deles presa ao peitoral e sem a plaquinha de enfeite, que tinha cristal swarovski (responsável pelo barulho, ao bater na outra plaquinha com as informações). Lembre-se ele sente o cheiro, nosso pug não enxerga, mas tem nariz que funciona :-) não precisa comprar tudo com barulho e guizo. Seu cãozinho vai se adaptar e usará seu faro como nenhum outro. Não perturbe-o com o excesso de alarmes e informações com ruídos, que acreditem, mas irritam do que ajudam.

Falta do contato visual - Levamos uns meses para diferenciar as malcriações do Monet, que são muitas, com os desajustes de quando a visão estava fazendo falta para ele. Nós ganhamos dois grandes amigos, os irmãozinhos Monet e Miró. O Miró é mega educado, fofo e príncipe e, o Monet (ceguinho) é muito danado. Sempre falaram que a gente deveria tratar os dois da mesma maneira. Não é tão fácil assim. Criamos os dois pugs dentro de casa e revesamos a liberdade deles. Horas eles podem ficar soltos e em alguns momentos ficam presos em um espaço limitado. Nunca ficam presos por coleira. Eles tem um espaço, pequeno, mas que podem andar, beber água, brincar um pouco e dormir. As vezes o Monet faz birra, barulho e muita bagunça, só se acalma quando a gente deixa que ele fique solto pela casa. Sempre brigávamos com ele até que notamos que muitas das vezes não era para sair do espaço que colocávamos, mas queria saber se estávamos por perto. 


O Miró nos olha pelo vidro várias vezes, mas quando estamos em silêncio e longe do campo olfativo (gostaram do termo?) do Monet como ele vai ter certeza de que estamos por perto. Ele fazia toda aquela algazarra para poder ter nossa atenção. Então, descobrimos que quando ele dá um sinal desses é só que a gente vá perto dele e diga qualquer coisa do tipo "Estamos aqui, Monet", "Agora fique na sua casinha, depois ficamos juntos", "Vá dormir, pare de bagunçar"... Não é sempre, mas muitas vezes resolve. É importante ir identificando quando seu cãozinho cego está querendo aprontar e quando ele está arrumando um jeito de te fazer aparecer. Só para dar um oi, entende?


Cuidado ao tocá-lo - O Miró facilmente sabe quando as pessoas estão se aproximando, quando vão tocá-lo ou pegá-lo no colo. Só que o Monet vive levando sustos. Quando você for encostar no seu cãozinho cego, não custa falar com ele, avisá-lo que você está se aproximando e pedir para que todas as pessoas façam isso. 
O cão está lá, na paz: brincando, deitadinho, descansando e do nada alguém vem e dá um 'sustão' nele. Sem querer, lógico. Não custa nada ser cuidadoso e pensar que ele não tem o sentido da visão e se você pode evitar que assustado eles se defenda atacando alguém ou mordendo... melhor, né? Só de você falar o nome dele, certamente o seu amiguinho já vai entender que você está se aproximando. Pelo som e pelo cheiro vai perceber a distância que você está.

Passeio - Hoje em dia não temos nenhuma dificuldade em levá-lo para passear. Nunca deixamos os pugs sem supervisão na rua. Os dois estão sempre presos no peitoral e na guia. Se tiverem muitos obstáculos no,local, colocamos os dois cães próximos, segurando-os com a mesma mão. Em lugares mais amplos e sem grandes perigos, cada um anda separadamente. Na maioria das vezes, um fica comigo e o outro com o marido. Nem sempre foi simples assim. O Monet tinha muito medo de ir pro chão no começo. Antes das vacinas, fazíamos trajetos pequenos com eles no colo, até que chegou o grande dia do Monet andar pela rua e... empacou. Ele andava todo desconfiado e qualquer mudança no chão fazia com que ele travasse as quatro patinhas e nada fazia com que ele saísse do lugar. Desnível, mudança de piso, pequenos buracos, textura diferente... bastavam para o puguinho parar e termos que pegá-lo no colo e atravessá-lo do obstáculo. Depois ele continuava feliz e rebolando até o próximo momento de pânico. Nós fomos acostumando ao pouco, colocando a patinha dele onde eles tava com medo e mesmo forçando (com carinho) e encorajando a vencer os obstáculos. O Miró acabou ajudando nesse processo, mas o que importa mesmo é passar confiança para o seu amigo.


Banho - Informe seu amiguinho que vai molhá-lo. É uma coisa tão simples, mas que faz muita diferença. Até quando eu vou lavar a patinha dos dois pugs, eu ligo na torneira, deixo que eles percebam que é barulho de água, molho a minha mão e encosto (a mão molhada) neles, depois coloco a patinha deles embaixo da água. Quanto mais tranquilo for esse momento, menos chances tem de se cãozinho cego se assustar com a água e passar o banho todo tentando fugir, te arranhando e etc.

Inimigos imaginários - Tem momentos que estão na paz do lar e o Monet enfrentar vários inimigos imaginários. Começa andando devagar, pronto para dar o bote, parece um felino. Dá umas latidas, foge, enfrenta, rosna... Não sei bem o que acontece, mas ele acaba achando que tem alguma coisa em algum lugar, ai já era. Só se acalma depois que a gente vai até o lugar e mostra que não tem nada. O pior é quando o Miró vai na dele e também enfrenta o tal "monstro". Eles ficam brigando com o nada. Eu não me importaria se fosse uma brincadeira, mas o Monezinho fica com medo, tadinho. Sempre que eu percebo que ele está desconfiado, eu vou com ele no lugar, a gente anda do lado dele e mostra que o espaço está vazio. Então, passa o medo.

Subir e descer - Um erro comum é colocar seu cãozinho cego, no lugar onde ele não subiu. Logo, ele não sabe a distância que está do chão e provavelmente vai começar a ficar desesperado quando precisar sair do lugar.  O Monet demorou uns dez meses para subir e descer dos objetos. Começou a subir logo no primeiro dia por aqui, isso ele sempre fez sem nenhum esforço. Brincava, corria, dormia... quando precisava descer chorava, fazia manha e nada de descer. Subia em tudo, não descia de nada. Resultado: toda hora estávamos lá, descendo o cãozinho e tirando dos lugares estranhos que ele se enfiava. Foi o que mais nos exigiu calma e paciência. Toda hora nosso ceguinho subia na poltrona e depois chorava para descermos. No começo era bonitinho, depois foi perdendo a graça e a paciência foi junto. Era um saco! O danado exigia toda hora a nossa atenção. Quando a gente já não aguentava mais deixava que ele ficasse lá chamando, chamando... até que tirávamos do lugar e meio segundo depois ele subia novamente. É mole? Passamos dias e mais dias, meses e meses... com todo o carinho  ensinando a pular, a vencer os obstáculos. Era a autonomia dele e a nossa também. Demorou, mas ele conquistou mais essa. Ficamos cheios de orgulho do nosso pug cego. Hoje em dia dá vontade de voltar no tempo alguns dias. Dá muito trabalho! Agora ele sobe e desce igual a um doido de todos os lugares que nem pudemos imaginar, se enfia em vários becos, quer ficar dentro dos armários, embaixo das frestas! Ufa. Só o amor para explicar, viu?





6 comentários:

  1. preciso esconder esse tipo de post da minha filha...

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    1. Pq Kel? Ela quer um puguinho?
      Mas esse meu Monet é tão danado que acho que passa a vontade de qualquer um, viu?

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  2. Ela quer um pug, um sheepdog, um labrador,enfim..me atormentar(pq não cuida de nenhum!)
    Nem pensar né Nathy, eu já tenho uma coleção de poodles!

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  3. Olá Nathália! Adorei seu post! Vai me ajudar muito! Estou cuidando de um cachorrinho cego, ele foi jogado em uma garagem aqui no conjunto e me ofereci para cuidar e conseguir um lar. Não sabemos se é de nascença ou se é erliquiose, amanha vamos ao veterinarios e faremos os devidos exames para saber o que ele tem.
    Grande abraço

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  4. Como endentificar que o cãozinho é cego?

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