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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Mil coisas

Isso não é um desabafo, uma chacota e nem mesmo uma indireta.

Quando eu escrevo nesse blog 80% das coisas é para eu mesma ler daqui uns dias, meses ou anos.
Essa imagem hoje foi tão esclarecedora. Embora de cabeça para baixo, essa placa de trânsito é "dê a preferência".

Lá pelo quinto ou sexto mês eu comecei a me sentir grávida, tem horas que eu ainda esqueço. Sim, eu esqueço! Mas no meio do segundo trimestre, por melhor que a gestante esteja já começamos a não ter 100% de energia e vitalidade.

Tem dias que estamos incríveis e outros que uma certa moleza é inevitável. Foi exatamente nessa época que eu comecei a ter alguns conflitos pessoais. Coisas minhas! Eu não acreditava no inconsciente coletivo de "grávida é folgada e só faz corpo mole" e ainda na tendência de só serem bem tratadas a grávida problemáticas. Isso é tão contraditório!

Tudo que vou escrever não serve para nada além de me fazer lembrar sempre do que eu não quero esquecer. Eu não me permito esquecer, para não fazer com os outros!

É muito raro ver pessoas que sedem o lugar no ônibus, se oferecem para carregar as coisas para o outro, ajudam a atravessar a rua e entendem que a preferência não é folga e privilégio: é necessidade.

Não e raro que aquela mulher que acabou de descobrir que está grávida precise de muito mais privilégio do que a está com um barrigão de nove meses. Custa ser um pouco complacente com a situação do outro? Mas, não adianta fazer xingando, tem que ser de verdade.

Tenho uma amiga querida que tem a metade do tempo de gestação que eu, no último dia que fui ao trabalho, ela estava com muita cólica, chorando e as pessoas até se preocupam, mas com muita frieza "melhorou?" todo mundo pergunta, fazer alguma coisa realmente por ela, NADA!

Eu fui na sala dela, arrumei as coisas para ela, organizei a bolsa e o armário. Fiquei do lado dela. Prestei atenção quando ela foi ao banheiro sozinha. Levei todas as nossas coisas para o carro, cuidei para ela descer o degrau, não escorregar nas poças. Naquele momento, ela precisava mais do que eu. Tinham várias pessoas na escola, mas ninguém vai para a ação.

Uma grávida ajudando a outra grávida. Dois bebês na barriga! Um com quatro meses e o outro com oito, depois de uma dia de trabalho. E a nação, estava fazendo o que? Olhando, lógico. No máximo olhando com boa intenção, mas a intenção mesmo. 

Para as minhas poucas amigas do trabalho eu sempre digo que ninguém enxerga além de si e sua família. Se é a sua filha que está chorando... é uma reação, se é outra pessoa... "Tô nem ai!" Se uma familiar meu liga no meu celular e diz que entrou uma farpa no dedo, eu movo o mundo, se é a mãe de alguém, problema dela, é frescura!

Nós não nos enxergamos enquanto humanos! É bem cada um defendendo o seu e no máximo "os de casa".

É lógico que quem eu mais amo, sempre vai ser prioridade na minha vida, mas não custa nada me colocar no lugar do outro. O que é mais chocante é que muitas vezes pessoas que já passaram pela mesma situação que você está vivendo ignoram, como se fossem completamente alheias ao que você está sentindo.

Assim que uma amiga muito querida engravidou, ela me ligou se desculpando por tudo que não tinha feito por mim no primeiro trimestre, e pelo favores que ela me pediu além do que era a minha função no trabalho. Coisa mais linda! Eu expliquei para ela que para mim não foi esforço nenhum, que eu não passei pelos mesmos sintomas que ela teve. Que não precisava se desculpar, de jeito nenhum! 

Eu espero ter essa grandeza da minha querida. Que quando eu não possa ser cortês e gentil na hora, a vida possa me colocar em situações que em pouco tempo eu possa  voltar e rever a situação, tendo tempo para acertar. 

Quantas mulheres do meu dia-a-dia, que são mães, me soltaram piadinhas: "Quantos pré-natal você faz por mês?", "Precisa de tanta ultrassom?", "Vai comer de novo?", "Toda hora no banheiro?" sem falar que os olhares, as vezes, são muito mais corrosivos e hostis do que qualquer grosseria. 

Eu antes de ficar grávida, não sabia como era gestar e acredito que ainda não vou saber de muitas coisas por qual passam gestantes que tem certas complicações e uma saúde mais frágil. Só que é inaceitável que daqui a dois anos eu esteja tendo um comportamento tão rude com qualquer outra futura mamãe que cruzar o meu caminho. Como se eu esquecesse que ir ao banheiro toda hora, não é fazer corpo mole, é necessidade.

Que memória curta nós temos, né? É tão fácil ser compreensivo, mas só quando interessa.

Se eu estiver num lugar público, fila ou qualquer situação desconfortável e chegar uma pessoa em condições de maior prioridade do que eu, vou levantar. Vou ceder o lugar! Sem cara feia, sem fingir que estou dormindo, que não vi a pessoa chegar. E mesmo que tiver um adolescente olhando para a lua para não ter que deixar de ter o seu conforto, eu não vou me irritar com ele e nem falar gracinha. Eu acredito que um dia esses corações gelados serão cotados.

De um tempo para cá, tenho evitado algumas situações de aglomeração e tenho me dado o direito de prioridade, principalmente quando vou me colocar numa situação de risco. 

Eu já tive em duas situações consideradas preferencial: agora na gestação e quando eu machuquei o pé que fiquei por uns dias sem andar. Ambas as situações são ignoradas pela sociedade. Imagino como deve ser difícil ser idoso, deficiente físico grave ou mental severo. 

Gentileza parece que não existe mais, principalmente as que você não ganha nada em troca.

Agora o que é mais complicado é isso: ao mesmo tempo que todo mundo olha torto para a gestante, se a gestante for pobremática... ai sim fica tudo bem.

É bem assim: Se você está bichada, doente, com complicações na gestação e com o bebê, sofrendo, ferrada, esfolada, pobre, miserável, sem enxoval, desempregada (deu para entender?) todas as pessoas são carinhosas, fazem de tudo, ficam ao seu lado, te protegem... são ligações, visitas e aquela bajulação de "coitadinha". "Vamos passar por tudo juntos". 

Agora experimenta ser saudável, trabalhar, ter tudo em ordem, programado e planejado... Colega, você é odiada... é sério. Começam a surgir verdadeiros motins contra você. Como assim, Jesus? Quem explica isso? Não dá para entender. 

Não me sinto e nem sou melhor do que ninguém, pelo contrário vivo me retalhando. Só que já desisti de racionalizar essas coisas. Eu tenho uma super amiga que acabou de comprar um apartamento incrível, dos sonhos. Maravilhoso, fruto de muito trabalho. Eu comprei presentinho, fui na casa dela, fiquei tão orgulhosa de ver que pessoas honestas também podem vencer na vida... só que isso não é o padrão.

É muito mais fácil o "povo" se compadecer com a miséria de um colega que está na lama, para ser despejado de casa, do que sentir-se realmente feliz e celebrar a conquista, a alegria e o que deu certo. Eu estou louca, ou é isso mesmo? Gente honesta, esforçada e que com muita luta vence na vida, não tem vez! 

Se a pessoa está de cama, em fase terminal, dependendo de um milagre para passar a cada dia é a a maior mobilização de todo mundo. Se você é saudável, dane-se? Como assim? Que sentimento é esse? Lógico que temos que ser solidários, ajudar o outro e buscarmos o melhor não só para nós. Eu entendo e fico muito feliz com a comunhão dos problemas, da dor, das doenças, dos desgostos. Só que a comunhão da alegria não existe, não fora da sua casa.

Hoje é o aniversário do meu marido e a formatura do meu primo Bruno. Duas coisas muito importantes. Mas, eu tenho certeza que muito menos "importante" para alguns do que se os dois tivessem em uma situação de desgraçaAi, eu não sei se estou me fazendo clara. Mas, a quantidade de pessoas que vão parabenizar meu primo pela sua formatura é infinitamente menor do que as que estariam do lado dele em qualquer atitude adversa. Entende?
Eu mesmo tenho para mim que os grandes amigos são aqueles que ficam ao nosso lado nos momentos de alegria e conquista. Não vá confundir com os interesseiros. Mas, ter alguém que seja capaz de partilhar da sua alegria, de verdade, com coração aberto é muito mais raro, do que quem faça um bingo beneficente se você estiver doente. Vai entender!

Desde que eu comecei a ter coragem de dizer que eu estava grávida QUASE NINGUÉM perguntava se eu estava bem, se eu estava feliz. Era só pergunta sobre dor, desconforto, vômito, preocupações futuras, problemas, aborto. Páááááááára, Brasil! Não é possível que a gente nasce para isso. 

Me deixa ainda mais intrigada as pessoas que vivem em situações desfavoráveis só para ter atenção. Inventam problemas para estarem na "mídia". Eu não critico não, sabe que parece que esse é o jeito mais fácil de ser amado. De sobreviver! Escolha andar na linha e estará sozinho, ou com apenas os poucos queridos.

Eu sempre penso sobre isso, lembro que na época da faculdade a minha turma passou um semestre boicotando as atividades do professor mais bonzinho. Os que iam deixar de DP, que gritavam, se estressavam a  gente fazia tudo. O único totalmente equilibrado e tranquilo só era "enrolado". Até que quase no final do semestre ele nos perguntou a quem estavamos enganando e que ele não ia mais fingir que não estava percebendo o nosso "jeitinho" de resolver o problema e muito menos se obrigar a agir como os outros professores para entrar na lista das prioridades.

O que eu aprendi na disciplina dele, enquanto conteúdo, nunca vai superar essa aprendizagem, foi uma lição de vida. Será da nossa natureza bajular os doidos, privilegiar os piores e nos encantarmos com as desgraceiras?

Vai, concorde comigo! 

Se você tem dois irmãos: um compreensivo e outro barraqueiro fulerento - Para quem você alivia?

Entre sua mãe e sua sogra: uma louca e a outra equilibrada - Na casa de quem você ceia no Natal?

Duas amigas, dois filhos, dois chefes: um fofo, educado, bonzinho e o outro arrogante, prepotente, carente - Quem você privilegia?  

Entenderam onde quero chegar, né? O meu professor da faculdade sempre ia entender, como ele era mais compreensivo, flexível e do bem. A gente fazia tudo para os amargos e nada para o mais doce.

Teve um dia que eu encontrei minha mãe e brincando disse que ia começar a concordar com todo mundo. "Nathália, está enjoando muito? Engordou muito? Está sentindo muita cólica?" Eu já estava pensando em responder que sim! Mas, eu consegui! Músiquinha da vitória para mim. Continuei humildemente dizendo. "Não, está tudo bem!" O problema é que depois vem os comentários piores ainda. É nessa hora que dá vontade de mentir e dizer que está péssima. Resolve. A pessoa fica feliz! Sério. É um absurdo, mas é verdade.

Bem, Garças a Deus, eu escrevi esse post apenas para mim mesma. Quero ler isso daqui um tempo e poder lembrar desses detalhes quando for tratar o outro! Eu só posso agradecer por cada dia da minha gestação e pelas pessoas incríveis que eu tive e tenho ao meu lado.

Sem ressentimentos, sem mágoas e com muita vontade de ser uma pessoa melhor a cada dia. Ainda mais agora que vou acabar influenciando diretamente um ser humano. 

Hoje meus agradecimentos vão especialmente a minha família e para as meninas queridas. Todas em extinção:
  • Adriana Ávila
  • Andréa Hungria
  • Carina Menezes
  • Grace Kelly
  • Glauce Beltrão
  • Andreia Guiraldella
  • Nancy Blumenfeld
  • Kélcia Seidel 
  • Natália Namora
Cada uma de vocês me fez acreditar, por algum momento que pessoas incríveis ainda existem!

4 comentários:

  1. Incrível é vce, pouquíssimas pessoas conseguem enxergar tão longe qto vce. Ai não conta pra ninguém mais eu to me achando só pq o meu nome ta aí!rsrsrs

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  2. Eu li essa postagem logo que vc a fez, não comentei por opção na ocasião,mas,cheguei a falar sobre isso com a Camila, Ivani e Marília . Queria que soubesse, que sinto-me muito feliz por ter meu nome nessa lista.Acho que você sabe o profundo respeito ,carinho e admiração que sinto por você.
    No que for preciso, conte comigo! Meus dedinhos furados e sujinhos de tinta estarão sempre prontos a te ajudar.Beijos

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  3. Amiga, quanta verdade...compartilho contigo dessa opinião, meu Deus...como as pessoas adoram saber da desgraça e dar forças a esta...um exemplo disso...basta olharmos todos os incentivos do governo a quem tem um monte de filho e não tem nada na vida, já quem é trabalhador e planejado tem de pagar horrores de impostos...é o fim...inversão total de valores...e a gente fica nessa encruzilhada questionando-se o tempo todo: onde vamos parar?
    E se as pessoas te criticam, porque vc está bem e feliz com a sua gestação é pq vc está no caminho certo!
    As pessoas me criticam, tanto quanto criticam homossexuais e por aí vai...por eu escolher não ter filho. É difícil entender que o fato de não ter filho nada tem a ver com não gostar de crianças e não entender o papel delas para o mundo. Mas, oi? Eu tenho o direito de não sentir vontade de ser mãe e ter um marido que não quer ser pai.
    O problema é, cada vez mais, as pessoas estão tendo vidas medíocres e acabam achando que isso é o padrão...e o pior...com isso acabam cuidando mais das vidas alheias...
    Glauce

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    1. Mas Deus coloca na minha vida pessoas como você, que fazem valer a pena o dia-a-dia. Obrigada pela sua amizade e carinho de sempre. Beijo enorme! Nathália :-)

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